quarta-feira, dezembro 17

O Rock'n Roll é o último que morre...


Coisa raríssima hoje em dia, a manutenção de estilo e até de valores se tornou, pra mim, uma obsessão, principalmente quando o assunto é música. É bem devido à essa rara manutenção que últimamente tenho evitado ouvir coisas novas de bandas ou intérpretes mais velhos. Longe de mim, me tornar um museu com duas pernas, mas defendo a idéia de sair de casa sem jamais esquecer onde você nasceu.

Os agora senhores do AC/DC provaram que também defendem isso. Ainda há pouco terminei de ouvir o novo trabalho dos Australianos e graças a Deus consegui sorrir ao final da última faixa. Black Ice veio pra estampar definitivamente como uma banda de rock da velha guarda precisa se comportar se quiser manter seus fãs que já têm cabelos grisalhos. Ao longo da viagem de 15 faixas do 16º CD dos caras, a fidelidade em relação ao estilo vai surgindo cada vez mais forte, em cada nota. Angus Young continua com suas distorções antigas e deliciosas e Brian Johnson ainda tem as mesmas cordas vocais de quando entrou na banda em 1980. Quem não conhece e ouve, pode perfeitamente afirmar que Black Ice veio antes de Back in Black de 1980, por exemplo; e isso deveria ser invejado hoje em dia.

Os méritos também devem ir ao produtor do álbum, o velhaco de guerra Brendan O'Brien, que assina também a produção e a mixagem de trabalhos de bandas como Incubus, The Offspring,
Audioslave, Pearl Jam, Rage Against the Machine, dentre outras.

Fato é que, o AC/DC fez um trabalho impecável, gostoso, nostálgico, fiel e quase impossível de parar de ouvir. Manteve a linha de sempre, com aquele hard rock cru, simples e vital; acima de tudo deixou claro como seria bom se outras bandas do velho rock puro e tradicional construissem e mantivessem suas carreiras alimentando nossos ouvidos com os riffs que os consagraram. Não é verdade, senhor Axl Rose? Não concorda comigo, Dinho Ouro Preto?

Vida longa aos tiozinhos do AC/DC!

segunda-feira, dezembro 15

A Volta dos Que Não Foram


O cinema nacional já tomou muitas esferas, mas nenhuma tão divertida, emblemática e importante como a que estamos vivendo. Estamos condicionados a pensar que nada mais presta na nossa geração, e que não há nada de novo, mas muito pelo contrário...

Há alguns anos, o cinema brasileiro não era mais importante que a literatura. Era essa segunda que desempenhava o papel principal de mostrar à sociedade os problemas e cenarios do cotidiano. Durante décadas, a literatura brasileira se preocupou em retratar o brasileiro e suas diversas faces, desde Macunaíma às obras de José de Alencar. Hoje, a geração entre os 30 e 50 anos tem autores de excelente domínio técnico da narrativa, os romances não se preocupam mais em retratar o Brasil, e já não pautam o debate cultural. Essa função cabe ao cinema. Mais do que nunca.

Essa visão mais complexa da realidade, leva a população a entender melhor a realidade do país, e chega facilmente ao dia-a-dia brasileiro, que tem a vergonhosa marca de não ler nem 1 livro por ano.

Filmes como Tropa de Elite comovem muito mais do que toda a obra de Glauber Rocha somada. O cinema brasileiro pode ainda não ser a indústria que pede a lei do Audiovisual, mas já mobiliza e concientiza grande parte das pessoas que ainda buscam se atualizar com a realidade nacional.

Chega a hora da geração atual abrir os olhos e deixar a saudade de lado. Temos incríveis profissionais, dispostos a mostrar ao mundo como o cinema brasileiro ainda tem a força mostrada pelo Cinema Novo, e que está pronto para o ficcionismo-real que abate a verdadeira história do Brasil.

segunda-feira, dezembro 1

Burn After Reading, 2008


Saudosista. Não sou saudosista, e tampouco cabeça fechada ao ponto de não aceitar novos diretores e novos atores. Mas o que escreverei abaixo, é a mais pura opinião de alguém que realmente não está entendendo mais nada. A mais recente produção dos irmãos Coen mantém uma temática que percorre grande parte de sua filmografia: o bizarro e o grotesco. Ao contrário de David Lynch – cineasta que trabalha com esses temas, conhecido por realizações de difícil compreensão –, que cria um universo próprio em (muitos dos) seus filmes, os Coen brincam com o invulgar em um mundo totalmente real.

O roteiro mostra uma incrível habilidade de fazer um enredo sobre nada. O filme todo discorre de uma não-trama, uma não-conspiração, e somos obrigados, ao fim da película, a tentar entender porque diabos ficamos tanto tempo sentados naquela poltrona, esperando algo fazer sentido. Um interessante tema do filme é a paranóia. Principal produto de exportação da sociedade estadunidense da segunda metade do século XX, a paranóia ganhou o mundo e, hoje, já não é mais exclusividade dos norte-americanos. Outros filmes já exploraram este tema no ano que passou, e ainda o medo e a insegurança em que vivem os americanos. Mas este filme, tem um toque especial. Não se fala em bombas ou ataques terroristas, e sim do anti-patriotismo que toca alguns americanos, quando seus interesses estão em jogo.

Outro ponto que me leva ao que escrevi no início do texto, é a falta de ligação que os diretores formam entre o personagem e o telespectador. Quem, algum dia, vai se esquecer da família Corleone? Ou ainda, do Vicent Vega, em Pulp Fiction. São personagens, que embora vilões, foram maquiados para nos fazer pensar que eram bonzinhos. Todavia, isso não acontece com os irmãoes Coen, que fazem questão que não tenhamos nenhuma ligação sentimental com os personagens de sua trama, que nem sempre sobrevivem, sejam bons ou vilões.

Entre essas e outra é que ainda não posso dizer que formei uma opinião sólida a respeito desses irmãos. Terei que esperar a próxima.

quinta-feira, novembro 20

Björk Gudmundsdóttir, muito prazer...


Muitos a odeiam, alguns a rejeitam, na verdade não a conhecem. Estamos aqui para isso. Dona de uma voz impecável, estridente e contagiante, a islandesa de 43 anos começou sua carreira logo cedo, aos 12 anos gravando seu primeiro CD com ajuda de seu padrasto. Passou por bandas de punk progressivo em sua terra natal, a mais notória delas chamda Spit and Snot, onde era percursionista e foi ai que começou a se aproximar de vez com seu lado alternativo, excêntrico e totalmente experimetal.


Björk consegue juntar melodias incríveis com sons jamais utilizados, como vitrolas rodando discos ao contrário e pianos desafinados, fazendo disso uma mistura inigualável, inimitável e única. Suas canções são aquelas responsáveis por encher o ambiente de algo impossível de ser definido como triste ou alegre, melancólico ou excitante, balada ou levada - na verdade em cada uma de suas canções ela faz uma viagem entre todos esses adjetivos. Em obras como Play Dead (trilha sonora do longa The Young Americans) e Bachelorette é fácil identificar essa viagem, onde ela utiliza letras desesperançosas e depressivas com batidas fortes, sons de vários violinos e uma percussão cheia e ritmada.


De certo não possuo dados muito mais técnicos do que estes e o que me dirigiu foi o meu ouvido e os meus sentimentos aflorados quando ouço a obra dessa mulher. Obra essa intocável, incopiável, pois sinto que é algo que cresce dentro da alma dela se transferindo para as nossas quando a ouvimos. Na verdade a função mágica da música é essa; fazer-nos sentir algo adormecido ou intocável dentro de nossas almas, e posso garantir que Björk e suas traquinagens são ideais para realizar essa tarefa.

Jota Jr.

sexta-feira, novembro 14

Viva La Vila a la Coldplay


Existem aquelas bandas que ouvimos por ouvir, aquelas que ouvimos à exaustão e aquelas das quais sempre esperamos algo bom . Para esta terceira categoria coloco o Coldplay como o cabeça de chave. Mas em nenhum dos outros CDs eles me surpreenderam tanto como este último Viva La Vida. O quarto CD da banda, lançado em Junho deste ano é cheio de homenagens, novidades, semelhanças e ousadias. Ao contrário de todos os outros, ele não é um lugar comum em meio às aparições da banda.

A novidade: é o album mais curto, mas ainda é o mais completo e cheio. As músicas parecem penetrar em você, e explicar cada sentimento que ela passa. Além disso, é talvez o CD em que a banda mais usou o piano. Há uma verdadeira convicção sobre o seu conteúdo, um enorme avanço sobre o seu antecessor, a banda sabia que estava prestes a lançar seu melhor disco.

A semelhança: o Coldplay, por si só, se parece com um misto de diversas bandas, porém neste CD, o quarteto se aproxima mais claramente, de uma outra banda inglesa, de igual qualidade. O Radiohead. É clara a semelhança com a banda em músicas como Life in Technicolor e Lost.

A homenagem: Chris Martin afirma que o nome do CD é baseado em uma obra de Frida Khalo. "Ela passou por muita coisa, claro, e aí começou uma grande pintura em sua casa que dizia Viva la Vida or Death and All His Friends. Eu simplesmente amei a ousadia disso", disse o cantor, se referindo à Frida, que teve diversos problemas de saúde. Além disso, dois clips de Viva la Vida foram lançados dia 01 de Agosto de 2008, o segundo, é uma homenagem ao Depeche Mode.

A ousadia: Violet Hill, o novo single da banda inglesa Coldplay, foi baixado por mais de 600 mil pessoas desde que foi disponibilizado no dia 29 de Maio de 2008, às 12h da Inglaterra. Mais uma semelhança com a banda Radiohead, que deixou seu último CD In Rainbows totalmente disponível para seus fãs, e eles poderiam pagar o preço que achassem necessário pelo disco. O Coldplay lançou uma segunda versão do vídeo de Violet Hill, em que chefes de estado e políticos como George W. Bush, Tony Blair, Fidel Castro, Barack Obama e Hillary Clinton dançam ao som da banda.

Não há dúvidas de que este CD é não só o melhor da banda, como o melhor lançamento do ano, por trazer uma banda completa, madura e auto-suficiente. Chris Martin pode dormir sossegado por nos ter dado este presente.

quarta-feira, novembro 12

O Coringão jogou como música...


Nem o mais fiel corinthiano poderia imaginar como seria o ano de 2008 para o Timão. Rebaixado à segunda divisão em uma campanha medonha no brasileiro de 2007 e tendo como exemplo os rivais Palmeiras e Grêmio que também sentiram o gosto da séire B, era de se imaginar que até São Jorge perderia o sono pensando no que estaria por vir. O Palmeiras teve uma campanha irregular na série B de 2002, alternando momentos de guerra e paz com a sua torcida. O Grêmio nem se fala, suou sangue pra subir em 2007 e teve seu último jogo (contra o Náutico) apelidado" de 'A batalha dos aflitos'; um dos jogos mais incríveis da história do futebol brasileiro. É óbvio que o bom corinthiano, sabendo que as coisas no Timão são suadas e sofríveis, passou o Reveillon pensando que a qualquer bola na trave em 2008, sofreria um AVC.

De fato, as coisas não foram assim. O Corinthians, embalado pelos novos hits de sua maravilhosa torcida, jogou como música. As boas contratações e uma nova postura da diretoria alvi-negra contribuiram para a tranquilidade na série B, além do vice na Copa do Brasil; mas não foram determinantes como o apoio da fiel nas arquibancadas dos quatro cantos do Brasil. A organizada do Timão foi feliz por demais, adaptando clássicos da MPB como "Não Quero Dinheiro" do mestre Tim Maia e "Amigo" do Rei, sem contar as canções originais que arrepiam e dão um nó na garganta de qualquer apaixonado por futebol. Era fácil perceber como cada nota emitida pelas vozes apaixonadas na arquibancada era refletida dentro de campo, e o que se viu foi um time entrosado, aguerrido, jogando com orgulho e vontade, parecendo por vezes, uma orquestra regida pelos maestros da fiel, como não se via há tempos no time do Parque São Jorge.

Se alguém me perguntar do que serviu a série B para o Corinthians, a resposta vem fácil. Serviu para mostrar que os erros do passado foram superados dentro e fora de campo, serviu para provar o quanto a nação conrinthiana é fiel e apaixonada por esse distintivo; para encher os olhos dos torcedores com o show da fiel em todos os jogos, dentro ou fora de São Paulo e acima de tudo para selar um retorno magistral desse time que fez falta demais para elite e com certeza trará novamente o brilho das canções de sua torcida às arquibancadas da série A. E se surgir a tão famosa pergunta: "O que será do Coringão em 2009?"...pois bem, essa não vem tão fácil por envolver o futuro, o que eu sei é que independentemente do que acontecer a fiel provou que jamais te abandonará...por que ela te ama.

Jota Jr.

domingo, novembro 9

Vulgarizando a produção


Talvez, se os irmãos Warner não tivessem apostado suas últimas fichas em O Cantor de Jazz, o primeiro filme da história a utilizar o invento do som no cinema, ficássemos sem alguns dos grandes clássicos da história. Isso porque este foi o filme que salvou a Warner Bros. da falência, em 1927, graças a inovação que trouxe às telas. As pessoas adoram novidades. O filme foi um estouro e, se não ajudou a firmar o advento da nova técnica, pelo menos foi o pioneiro, quem deu o primeiro importante passo para sua consolidação nos anos a seguir. E de lá pra cá, tanta coisa vem acontecendo, que passo a achar que a produção audiovisual está ganhando uma nova esfera.

Não faz muito tempo, quando li em um determinado jornal uma matéria, cujo título bradava a seguinte questão: "Os games são os novos filmes". Os games aos quais o jornal se referia, tratava-se daqueles jogos para video-game que possuem roteiro, animação em várias dimensões e trilhas sonoras, tais como as usadas em longas metragem. Após ler esta matéria, em que o jornalista levantava questões como a qualidade das imagens, dos roteiros e principalmente, da realidade na qual os jogos eram criados, passei a acreditar que o cinema, mais do que nunca, está sendo banalizado.

Eu acreditava que isto estava acontecendo, quando grandes filmes blockbusters caiam nas graças do público por trazerem carros turbinados, mulheres bonitas e lutas corporais. Mas percebi então, que isso ainda é cinema, e que ainda traz a magia da produção, direção, elenco, trilha que um filme deve trazer. Acredito que não caibam comparações, mas filmes como Fast And Furious quando comparados a clássicos do cinema, como Gone With The Wind, ou Casablanca são diminuídos a simples filmes fáceis de assistir e sem muito conteúdo intelectual. Mas chegar ao ponto de comparar jogos 3D com cinema é demais.

Ao citar no início do texto o filme Jazz Singer, quis dar o exemplo de como a evolução tecnologica e a necessidade de criar novas formas de entretenimento podem fazer evoluir ao passo de que podem degradar por completo a imagem do determinado meio. Não sou saudosista, tampouco crítica degradadora, mas gosto de deixar claro o que é justo. Uma coisa é comparar siamês com vira-lata. Outra coisa é comparar cão com lobo. Que os filmes estão ficando cada vez mais fáceis de serem compreendidos, é fato. Mas compará-los a jogos de video-games é assinar a sentença de morte do cinema. Que os mestres não me escutem.

quarta-feira, novembro 5

Ótimos ares...


Buenos Aires encontra-se no hemisfério sul da América, a 34º 36' de latitude sul e 58º 26' de longitude oeste. Se estende sobre um terreno plano na margem à oeste do Rio da Prata de 19,4 quilômetros de norte a sul e 17,9 km de leste a oeste. O setor de maior importância na economia é o dos serviços, que representa 74% do Produto Interno Bruto (PIB). A indústria manufatureira é o segundo, tendo gerado em 2006 $26.454 milhões - cerca de 17% do PIB.

Nada disso importa, ao saber que Buenos Aires é a Europa, dentro da América do Sul. A importância cultural desta cidade, é talvez comparada às grandes metrópoles européias, causando nos turistas a nítida impressão de estar visitando um país de primeiro mundo. O elevado nível cultural da cidade pode ser apreciado através da sua grande quantidade de museus, teatros e bibliotecas. Não tem como visitar a Argentina, e não passar por esta cidade. No Brasil, não há nenhuma que se compare (na minha opinião). Turistas do mundo todo visitam o nordeste, o Rio de Janeiro, São Paulo... mas nenhum desses destinos são tão emblemáticos quanto a cidade argentina.

Os lugares turísticos mais importantes se encontram no Centro Histórico da Cidade, diferentemente do que ocorre nas cidades brasileiras, onde os centros são menos visitados, dando espaço para o litoral e o interior dos estados turísticos. Uma tradição importante é a dos Festejos de Carnaval. Existem em Buenos Aires 103 murgas, agrupando mais de dez mil pessoas. Anualmente, juntam-se mais de 800 mil pessoas para desfrutar da música, baile e canto que oferecem estes grupos, na grande quantidade de corsos que se realizam nos bairros portenhos. Nada disso pede mulheres semi-nuas, dançando em carros alegóricos, apelando para a sexualidade e usando o corpo para fazer propagandas.

Eu tive que escrever sobre essa cidade, mesmo não falando sobre nenhum filme ou música à que ela se refere. O momento em que estou passando, é de extrema agitação interna a respeito do fim do ano, e se tudo der certo, é pra lá que eu vou. Em uma hora de reconciliação e reaproximação com meu namorado, nada melhor que um tango, um vinho e uma paisagem urbana de chorar, para criar o clima perfeito. Se eu puder dizer mais alguma coisa, antes de me despedir, eu diria "Ótimos ares estão por vir..."

quarta-feira, outubro 29

Trilhas, trilhas


Eu não sei se sou eu e minha mania de querer as coisas para sempre iguais ou o Martin (Scorsese) está realmente me decepcionando. Para quem fez Taxi Driver, assistir The Aviator é frustrante. Claro, que talvez possa ser uma fase, já que The Departed é divino e New York, New York já não é tão bom assim. Mas se tem uma coisa que devemos admirá-lo para sempre é em suas trilhas sonoras. New York New York tem algo de saxofone que não é comum. Ainda mais com o de Niro tocando. E tem um glamour nova-iorquino que dificilmente vemos em outros lugares. Gangues de Nova York tem um cenário de guerra urbana que me leva ao local das barbaries e me faz quere ficar por lá mesmo.

Outro diretor que não fica para trás é Quentin Tarantino. Em Reservoir Dogs ele dispensa a trilha sonora para dar mais espaço aos diálogos e para não desprender o público do alvo principal, o sangue. Já em Pulp Fiction, ele abusa desse recurso, talvez por ter menos sangue, mas principalmente para dar o filme um clima de "Pulp" que Uma Thurman já faz por si só. Ver Vicent Vega se drogar ao som de The Centurians é nada menos que magistral. Outra cena do filme que faz você quere colar o dedo do preview é a cena da dança de Mia Wallace com Vicent Vega. Chuck Berry foi imortalizado com a música que eles dançam e com certeza John Travolta também. E mais uma vez a trilha sonora se faz parte integrante do filme.

Em Kill Bill, o diretor também bota suas manguinhas de fora no que diz respeito à trilha. Na minha opinião, não consegue ser melhor que Pulp Fiction mas pelo menos ele tentou. Os filmes de Tarantino se caracterizam pelo enorme número de citações e elementos retirados de filmes, séries de TV, música, quadrinhos, e por aí vai, e neste Kill Bill Vol. 1 o diretor radicaliza a fórmula. Os filmes de Tarantino são aqueles raros exemplos de produções em que a seleção musical tem uma importância fundamental, funcionando tão bem quanto uma trilha incidental original. Segundo o próprio cineasta, quando ele está filmando, o faz já pensando na música que será utilizada acompanhando a imagem. Na verdade, Kill Bill Vol. 1 é o primeiro filme de Tarantino que conta com músicas especialmente compostas para ele.

A salada musical continua com canções pop de épocas variadas - a soturna balada Bang Bang (My Baby Shot Me Down), com Nancy Sinatra no vocal, Woo Hoo do grupo de surf-music japonês The 5.6.7.8's, e até mesmo a famosa versão "flamenco brega" de Don´t Let Me Misunderstood, por Santa Esmeralda, ouvida no duelo entre "A Noiva" (Uma) e O-ren Ishii (Lucy Liu). No entanto, a "pérola" do álbum é o resgate que Tarantino fez de uma composição esquecida de um dos maiores compositores do cinema de todos os tempos, Bernard Herrmann. Negar que Quentin é, hoje em dia, um dos únicos diretores que ainda se preocupa com a trilha, seria injustiça demais para a Sétima Arte.

O senhor Alfred Joseph Hitchcock também tem suas manhas cinematográficas quando estamos falando de trilhas sonoras. Psycho ele pioneiriza o uso do suspense com alto teor de medo nas trilhas sonoras que deveriam inclusive serem consideradas atores/atrizes em seus filmes já que acabam promovendo mais medo que os próprios.

E é por essas e outras que eu tenho certeza que a trilha sonora ainda vai permanecer intacta enquanto os cineastas entenderem que elas, ainda são, mesmo depois de todas as mudanças pelas quais o cinema passou, parte integrante, principal e fundamental de todos os filmes que almejam um lugar ao sol.

sábado, outubro 25

A resistência não valeu a pena...


E mais uma vez a minha resistência em conhecer "o novo" caiu por terra. Definitivamente saquei que tenho de deixar ela (a resistência) pra trás ao ouvir a primeira obra de Marcelo Camelo em seu trabalho solo. "Sou" ou "Nós", dependendo do ângulo, traz as primeiras canções do compositor depois da sofrida e misteriosa pausa do Los Hermanos e de fato consegue trazer de volta um pouco da banda, por não abandonar o estilo melancólico mas ao mesmo tempo alegre, que fez parte dos últimos discos lançados pelos cariocas. Isso é facilmente perceptível em faixas como "Mais Tarde", "Doce Solidão" e "Liberdade" (canção composta ainda com a banda), que permitem até o pensamento do tipo: "Poxa, esse poderia ser o quinto álbum dos caras...". O resto das canções se divide em marchinhas incrivelmente bem sucedidas como "Copacabana" e "Tudo Passa", instrumentais em "Saudade" e "Passeando" e até um dueto inusitado com a revelação teen Mallu Magalhães em "Janta". A cantora, auto-intitulada Folk, faz uma pequena participação cantando em inglês nessa belíssima composição de Marcelo, que de certo não ficaria estranha em nenhuma outra voz, nem mesmo na de Mallu. Mas essa é outra discussão; continuemos a falar do CD, que ainda traz a proximidade de Camelo com coisas do nordeste, facilmente percebida em "Vida Doce", um forró desajeitado mas completamente harmonioso, por ser de um carioca.

É indiscutível a entrada de Marcelo Camelo para o seleto time de cantores e intérpretes da MPB, ainda mesmo quando fazia parte do Los Hermanos, e essa sua primeira obra solo veio pra deixar isso mais claro ainda. Um CD fácil de ser ouvido e que deixa uma bela impressão do que a pausa pode ter causado aos outros integrantes. Claro que para um fã da banda carioca, o ideal seria um quinto álbum de estúdio e um pouco mais daqueles shows frenéticos que a banda costumava fazer. Creio que agora ficou difícil para este mesmo fã, definir se quer mesmo a volta do Los Hermanos.

Boa noite.

Jota Jr.

segunda-feira, outubro 20

32º Mostra Internacional de Cinema 17-30 out.


Maior e mais importante festival de cinema do país, a Mostra Internacional de Cinema, chega à sua trigésima-segunda edição. Fiel à sua vocação de contemplar a diversidade cinematográfica e revelar novos talentos, a programação de filmes da Mostra oferece ao público uma seleção do melhor da produção cinematográfica mundial recente e uma série de retrospectivas históricas. No ano em que Ingmar Bergman completaria 90 anos, a Mostra homenageia o cineasta com uma retrospectiva de filmes raros do início de sua carreira, como "Crise", "Prisão", "Rumo à Alegria" e "A Hora do Lobo", exibidos em cópias novas produzidas sob supervisão do Instituto Sueco. Outro homenageado da Mostra é o cineasta japonês Kihachi Okamoto (1924-2005), um dos pioneiros do novo cinema japonês, já comparado a Samuel Fuller, cuja obra influenciou definitivamente cineastas como Quentin Tarantino e Jim Jarmusch.

Entre os filmes apresentados na Mostra, estão Across The Universe, filme que já foi apresentado nas salas de cinema da cidade, todavia não teve muita repercusão. Um dos motivos, talvez, seja o fato de ser um musical dramático. Um dos filmes mais esperados da mostra é Che, que trás do famigerado Benicio Del Toro no papel principal, sendo comandado por Steven Soderberg.

Agora em versão restaurada pelas mãos do especialista Robert A. Harris — responsável pelo mesmo trabalho nos filmes Vertigo, de Alfred Hitchcock e Laurence da Arábia, de David Lean - The Godfather de 1972 também será exibido na Mostra.

A Mostra Internacional deste ano, se difere muito à de 2007, por apresentar uma grande quantidade de filmes veteranos das telonas, como é o caso do citado acima, de Coppola, além dos filmes de Bergman.

O ano de 2008 foi excepcional para o cinema brasileiro. A sua diversidade teve reconhecimento mundial e o Brasil foi país convidado em diversos festivais internacionais de cinema ao longo do ano. Isso ajudou muito na Mostra deste ano. No Festival de Berlim, o Urso de Ouro ficou com Tropa de Elite, de José Padilha. Em Cannes, Fernando Meirelles abriu o festival com o poderoso Ensaio Sobre a Cegueira, co-produção do Brasil com o Canadá; e a dupla Daniela Thomas e Walter Salles fechou Cannes com a vitória de Linha de Passe e o prêmio de melhor atriz para Sandra Corveloni.

Há muito tempo nosso país não era tão premiado desta forma. Ainda em Veneza, foi uma co-produção Brasil-Itália, Terra Vermelha, de Marco Bechis, quem melhor revelou a contribuição do olhar estrangeiro para o nosso próprio entendimento. O filme ítalo-brasileiro inaugura a 32ª Mostra Internacional de Cinema.E São Paulo é cenário perfeito para todos estes encontros culturais.

É por essas e outras que esta seleção anual de filmes da maior abrangência e de intensas inquietudes. Cinema para abrir os olhos e apaziguar os espíritos. De tolerância e de inconformismo. Da diversidade, como bem prega agora o cinema brasileiro que nos projeta a um mundo pleno de curiosidade.


Juliana Torres

quinta-feira, outubro 16

Ator ou escritor? Talvez diretor...


Hoje em dia, ao se falar de um homem que é ator e diretor, imagina-se diversos galãs como George Clooney ou ainda Clint Eastwood. Mas estou falando de um homem de 72 anos, que já dirigiu mais de 40 filmes atuou em quase todos, e escreveu cerca de 12 livros dentre eles comédia, prosa, teatro e romances. A pessoa citada, Woody Allen, ou ainda Allan Stewart Königsberg, seu nome de batismo, aos 15 anos começou a escrever para colunas de jornais e programas de rádio e em 1964, com apenas 29 anos, já era um comediante conceituado, com indicações ao Grammy por show de comédias gravados. Sua primeira experiência cinematográfica aconteceu no ano seguinte, quando foi convidado por um produtor de cinema, em um de seus show, para escrever e atuar em "What's New Pussycat" ("O que há de novo, gatinha", em portugês). Como diretor estreou em 1969, com Take The Money and Run ("Um assaltante bem trapalhão"). De lá pra cá, foram diversos filmes atuados, escritos e dirigidos por Woody, mantendo uma média de cerca de 1 filme por ano.

Além dessa produtividade invejada, Woody sempre manteve a qualidade e competência dos filmes, tornando-se um dos diretores mais aclamados do gênero comédia, sendo premiados diversas vezes por suas obras-primas, como Annie Hall ("Noivo neurótico, Noiva nervosa") que recebeu quatro Oscars. Woody não é muito de comparecer às premiações, apesar de não estar em nenhuma das cerimônias em que estava concorrendo, Woody conquistou mais um prêmio de melhor roteiro original por Hannah and Her Sisters (Hannah e Suas Irmãs) e recebeu outras 18 indicações em diversas categorias.

As premiações não são suficientemente boas para expressar quão genial é este homem do qual estamos falando, e em nenhuma cerimônia de Oscar pôde-se dizer sobre a genialidade dos livros escritos por Woody. Ele geralmente explora o pessimismo em que vive o homem para tornar as situações do dia-a-dia ainda mais deprimentes, mas sempre com um toque de humor, é o que ocorre em God: a comedy in one act em que Woody coloca em xeque as crenças humanas, e nos faz pensar sobre as injustiças a que somos submetidos durante a vida.

Woody Allen não só encanta na tela do cinema, atuando ou dirigindo, ele encanta por escrever e por nos mostrar tudo o que não conseguimos ver na nossa vida, talvez por estarmos precoupados demais com a vida alheia.

Sobre ele, Woody tem apenas isso a dizer "Os dois maiores mitos sobre mim são: que sou um intelectual apenas porque uso óculos e que sou um artista porque meus filmes rendem dinheiro. Estes dois mitos vêm prevalecendo há muitos anos”


Juliana Torres



quarta-feira, outubro 15

The Dark Side of The Rainbow


The Dark Side of the Moon - Um começo emblemático, não? Já que tal espaço foi criado por um casal apaixonado, achei ideal iniciar essa jornada falando de algo que casa perfeitamente com "The Wizard of OZ" (pelo menos é o que reza a lenda). Este magnífico e unânime álbum do Pink Floyd, lançando em 1973, quebrou barreiras, superou expectativas e ultrapassou por demais o seu tempo. Com melodias e efeitos inéditos na época, como sons de vários relógios, vozes paralelas e guitarras indo e vindo na contra-mão, The Dark Side of the Moon é o terceiro álbum mais vendido de todos os tempos. Músicas como "Time", "Money" e "The Great Gig in the Sky" tornaram-se hinos e são executadas à exaustão até hoje. Mas onde está a relação com o filme? Pois bem; o álbum se encontrou com "The Wizard of OZ" inicialmente em Agosto de 1995, quando o jornal Fort Wayne publicou um artigo sobre uma misteriosa sincronicidade entre o álbum e o longa, o que gerou uma curiosidade sem fim nos fãs. O artigo dizia que ao tocar o álbum simultâneamente com o filme, várias coincidências eram identificadas. Tais coincidências podem ser percebidas logo no fim da introdução do estúdio. O começo de Speak to Me muda para Breathe de acordo com a mudança do nome nos créditos iniciais. A cauda do cachorro Toto se move conforme os ruídos em On the Run. Money tem início logo quando Dorothy abre a porta para o mundo de Oz, e o filme deixa de ser preto-e-branco e se torna colorido. As coincidências também são percebidas nas letras, como em Time, onde justamente na parte em que Dorothy retorna à sua casa é ouvido "home...home again" e esses fatos se extendem por todo álbum o que torna este mito fonte de discussões até hoje. Em diversas entrevistas, os membros da banda negaram que fizeram qualquer esforço para forçar a sincronia mas isso também não foi capaz de cessar os boatos.

Confesso que, como um adorador das duas obras, sinto-me envergonhado de dizer que nunca fiz tal teste, mas essa pesquisa de fato despertou de vez a vontade de realizar a prova.

Se o filme lançado em 1939 e o CD em 1973, por si só não foram suficiente para se tornarem antagônicos, este mito veio para fazê-lo.

Boa noite

Jota Jr.

terça-feira, outubro 14

Começando com isto...


Um cérebro, um coração e um pouco de coragem. Quantas pessoas no mundo sabem a importância dessa combinação? Quase nenhuma. Pesquisas mostram, que no geral, as pessoas usam muito mais o cérebro ao coração. Em "The Wizard of Oz" (O Mágico de Oz, título em português) Dorothy Gale (Judy Garland) consegue reunir os três elementos, em uma amizade improvável, em um cenário impossível e em um tempo inimaginável. Após um tornado passar por sua casa no Kansas, Dorothy entra em um universo over the rainbow, onde se torna heroína e protagonista de uma das histórias infantis mais aclamadas de todos os tempos. Produzido em 1939, "The Wizard of Oz" já foi considerado diversas vezes pela AFI (American Film Institute) um dos maiores musicais já realizados, além de ter recebido diversas indicações ao Oscar e ainda uma indicação à Palma de Ouro do Festival de Cannes daquele ano. O filme ganhou os prêmios de Melhor Canção Original e ainda de Melhor Trilha Sonora. Isso pode ser devido brilhante atuação de Judy Garland, como Dorothy, que marcou sua carreira para sempre, inclusive foi um ponto marcante para sua morte precoce.

Judy faleceu aos 47 anos, por overdose, causada principalmente pela pressão que sofria dos produtores de Hollywood. Ao atuar em The Wizard of Oz, Judy fechou um acordo em que ela não poderia engordar nenhum quilo, tampouco perder a aparência jovial. Sob tanta pressão e tendo sua vida exposta para o mundo, Judy sofria de mudanças de humor, depressão e alucinações, o que levou a sua morte em 1969. Frank Sinatra pagou por todo o funeral, e deixou claro sua admiração pela amiga. Judy não era a primeira escolha dos produtores para o papel. Shirley Temple foi inicialmente cotada, mas não teve a liberação dos estúdios Fox.

O filme é baseado no livro homonimo de L. Frank Baum, publicado em 1900. Vários anos após a sua morte, a MGM comprou os direito autorais e começou as filmagens em 1938. O filme foi finalizado apenas em 1939, com a colaboração de diversos nomes do cinema, inclusive, foi parcialmente dirigido por George Cuckor, que também dirigiu Gone With the Wind (E o Vento Levou). Victor Fleming assumiu logo depois, finalizando as filmagens e ficando com todo o crédito da realização, o que acabou acontecendo também em Gone With The Wind logo após tomar o lugar de George Cuckor nas gravações deste.

The Wizard of Oz é então uma das maiores e mais apaixonantes realizações de todos os tempos, e mudou décadas na indústria audiovisual. Uma prova disso, é a inovação do sépia/color, onde as primeiras cenas são em tom de sépia, que se tornam coloridas por Techinicolor assim que Dorothy entra no sonho. Essas e outras curiosidades, tornam este filme um grande começo para as estórias de fantasia que encantam e embebedam nosso mundo do cinema.

Juliana Torres